Você decide ouvir o que a brasileira fantasiada de deusa Shiva, que usa blush em só uma bochecha, tem a dizer, e manter a mente aberta.

Afinal, você pagou caro por esse curso de respiração que sua amiga insistiu tanto pra você se matricular. O mínimo que podia fazer era curtir a experiência.
Você praticou yoga, participou das dinâmicas, conheceu gente nova com filosofias novas, aprendeu sobre benefícios do vegetarianismo, se identificou em vários momentos e absorveu cada gota de coisa boa que podia da experiência. Além do mais, mesmo com sua veia palpitante por diversão, você tem um lado romântico, conservador e espiritual que seus amigos não entendem e que aquelas pessoas pareciam dispostas a aceitar.
E daí se você teve que passar todo o seu fim de semana lá e perder noitadas certamente memoráveis? E daí se os exercícios de respiração faziam seus pulmões arderem e te deixarem tonta? Você estava cuidando de sua espiritualidade certo?
Era o que você repetia para si mesma enquanto, com a testa encostada na janela do ônibus, via pessoas bonitas, bem-vestidas e deliciosamente bêbadas deslizando pela noite da Zona Sul do Rio enquanto, com roupas de malhar, seu cabelo preso no topo da cabeça e mantras tocando repetidamente na sua cabeça, você ia – er - meditar.
Então você foi forte. E até conseguiu curtir o curso, mesmo que se sentisse um pouco estranha. Afinal, todo dia as pessoas anunciavam o quanto o curso estava mudando suas vidas e o quanto haviam mudado para melhor e o quanto estavam se encontrando e tendo experiências extracorpóreas na hora das meditações. Você realmente estava se dedicando e tentando, mas não estava recebendo o mesmo chamado divino que os outros participantes pareciam estar recebendo.
No último dia, enquanto abraçava seus instrutores e prometia que iria voltar, (pedindo perdão a Deus, Lorde Ganesha e Hécate por mentir na cara dura dessa forma), alguém anuncia uma night depois do curso.
Com os ouvidos aguçados, sua mente ávida por se perder em bobeiras e seu corpo clamando por um pouco de diversão, você presta atenção enquanto o vegano gostoso fala no microfone:
-É uma rave na Barra. Começa às onze horas, vai ter muita música e coisas que vocês nunca experimentaram antes. – ele sorri sedutor e meus olhos brilham. Aaaantes de ele continuar: -Mantras remixados. Open bar de sucos de frutas cítricas. Vamos fazer uma yoga deliciosa e curtir bastante. Termina às duas da manhã. Quero ver todo mundo lá, hein?
A maioria aplaude, mas fico deliciada ao ver que algumas pessoas suspiram da mesma forma que eu. Clareio a garganta quietamente e elas olham pra mim.
-Pré na minha casa. – sussurro.
Então você sai de lá uma pessoa calma. Se sente mais espiritualizada, informada sobre o mundo ao seu redor e com seus horizontes maiores.
No encerramento do curso, você canta alto, ri, pula, brinca e sai distribuindo gracejos para todo mundo como se fossem todos amigos de infância e você tivesse achado naquela ramificação saudável de comunidade Hare Krishna a razão da sua vida.
Você realmente não se arrepende da experiência mesmo que tenha sido um tanto dolorosa. Você gosta de conhecer coisas novas. E se voltasse no tempo faria tudo de novo.
Você abraça sua amiga e agradece pela experiência.
Com a promessa silenciosa de nunca mais voltar.

P.P.S: Quem se interessou: http://www.artedeviver.org.br/
rs
Ah...Gabeca :~ como você escreve lindo.
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