domingo, 24 de maio de 2009

Até que o álcool perca o efeito (...)

Os sons estão altos ao seu redor, mas você realmente não se importa. As músicas são extremamente contagiantes e as vozes das pessoas engraçadas. Você tenta se mexer de acordo com a batida da música, mas acaba perdendo o foco. Você ri para ninguém em especial sabendo que o copo de vodka na sua mão vão justificar qualquer tipo de comportamento estranho da sua parte.
Você esbarra e se apóia nas pessoas até sentir uma mão segura no seu cotovelo.
-OI! Tudo bom? – um cara não muito mais alto do que você pergunta. Ele é feio demais para que você se importe em decorar suas feições. – Qual seu nome?
Você ri simpaticamente e aproveita para se apoiar nele enquanto o cumprimenta.
-Jesse.
-Eu sou... – o nome é completamente irrelevante. – Sabe que você é muito linda?
Você ri alto. Você sabe que está linda. Ele sorri.
-Seus amigos te deixaram sozinha?
Você abre a boca e solta um sonoro grito quando seu cérebro preguiçoso armazena as palavras dele.
-Iihh!! Caraaa, a Alle!
Você lembra que a última vez que viu sua amiga Alle, você também viu o céu e as poucas estrelas, então você olha pro teto e vai procurando o céu. Quando chega perto da saída, não é muito difícil encontrá-la, respirando fundo milhões de vezes com uma das mãos apoiada na parede. O celular colado no ouvido.
-Alle!! – Você cumprimenta alegremente, percebendo muito tarde que o fulano de tal havia seguido-a.
-Jesse, vai querer carona? – Alle pergunta como se você nunca tivesse saído do lado dela. Não olha diretamente nos seus olhos e você percebe o esforço dela para manter-se centrada. – Eu estou ligando pra minha mãe.
-O que? Vocês já vão embora? – pergunta o fulano de tal abrindo os braços. Você olha para a bebida laranja dele e ri. Ele percebe.
-Você devia beber um pouco de fanta e parar de beber essa merda aí.
Você olha para o seu copo e pondera como um líquido transparente e ralo pode ser tão condenado.
-Por quê? – Você balança o conteúdo do copo debilmente e sorri. – É água, cara!
-Água? – Alle rouba o copo de sua mão antes que você consiga reunir forças para desmentir e tira um longo gole. Ela saboreia alguns segundos. – Água boa.
Você ri e percebe que o braço do fulano de tal está a sua volta. Na verdade é bom, porque você estava cansada de ter que se apoiar nos próprios pés.
-Bebe um pouco disso. – ele falou estendendo a fanta. – Tenta ficar um pouco sóbria.
-SÓBRIA? - Alle pergunta roubando a fanta do cara e tirando longos goles. Ela passa pra você com uma careta.
Você se lembra de alguma coisa sobre não beber do copo de outras pessoas, mas aí você pensa que se Alle, a garota mais consciente e responsável que você conhecia bebeu, não tinha problema você, que não é nada dessas coisas, beber também.
-E aí? – o cara pergunta com um sorrisinho. Você percebe que ele continua sendo feio mesmo no auge de sua bebedeira e ri disso. –Sua amiga vai te deixar sozinha?
Você grita:
-Ela vai? - e toca o ombro de Alle irritada. – Alle!!!
-Cala a boca, porra! – ela move os lábios colocando a mão no bucal do telefone. – Oi mãe. Não, era só a Jesse. Você pode vir? – ela vira para você novamente. – Eu te deixo em casa.
-Ah nãaao Alle! Tá muito cedo! – você protesta. Sua casa era muito silenciosa e precisava de barulhos que abafassem seus pensamentos.
-Jesse! A gente tem prova de Matemática na segunda!
-Ah Alle! Eu não to nem aí! – e você sentia como se a cada vez que você falasse isso um grande peso saísse das suas costas. Então você continuou repetindo isso enquanto se mexia no ritmo da musica. O fulaninho e Alle trocaram algumas palavras, mas você não prestou atenção.
-Jesse! – a voz da amiga saiu mole, então ela clareou a garganta. Você se perguntou porque ela lutava tanto pra ficar sóbria se seu estado era tão mais libertador. – Como você vai pra casa?
-Eu não sei caara!
-Eu levo. – o fulaninho falou. Alle sorriu aliviada e depois de vocês trocarem beijinhos moles ela saiu. Andando devagar. De costas ela parecia sóbria, mas a forma como riu para o segurança denunciou seu estado. Você ia chamá-la novamente, mas foi impedida pela língua do fulaninho na sua boca.
Era um beijo bom e ela curtiu enquanto podia, parando de vez em quando para rir de si mesma por estar pegando um cara tão feio. Ele devia ter o uns 24 ou 25 anos.
Depois de um bom tempo com os olhos fechados, pensando em diversas coisas, você separa sua boca da do cara e não ri.
-To me sentindo mal.
-Quer que eu traga alguma coisa pra você beber?
-Quero ir embora.
Ele parece feliz com isso e você não entende por que. Se ele estava de saco cheio de você que fosse embora de uma vez!
-Eu te levo.
-Ai brigada!
Você fecha os olhos e quando os abre está no banco de carona de um carro amplo, tentando não enjoar com a imagem da rua passando rápido na sua janela. O fulano dirige com uma mão e você nota que nenhum dos dois está de cinto.
-Ai.
-O que foi? – ele pergunta meio preocupado.
-Acho que vou vomitar.
-Calma aí. – ele parecia tranqüilo mesmo com a eminente possibilidade de seus sucos gástricos sujarem o carpete do carro que cheirava a novo. As luzes claras do posto de gasolina quase cegaram você. – Vou te comprar uma água. Espera um segundo. – e sai do carro.
Você para pra pensar por que ele está sendo tão gentil se há pouco tempo queria se ver livre de você. Respira fundo e fica impressionada de como, conforme pensamentos mais coerentes preenchiam sua cabeça, seu estômago embrulhava.
-Ai Meu Deus! – você finalmente se dá conta de que está no meio da madrugada no carro de um cara que você nem teve a decência de gravar o nome. Imitou a frieza com que Alle analisava as situações:
Você não podia correr ali. A rua era praticamente deserta e se esse cara fosse do mal, ia te alcançar. E se não alcançasse, outra pessoa daquela rua suspeita iria. Talvez se usasse o telefone do posto...
Antes que você pudesse raciocinar mais um pouco, o fulano lhe estendia uma garrafa d’água lacrada e você percebia que precisava dela. Era diferente da água que você estava tomando antes.
Estranho.
-A minha casa é dobrando aquela esquina. Vai pela praia.
Ele pega uma rua contrária a que você falou.
-Não é AQUI!
-Eu sei. Mas vamos aqui só um pouquinho.
Ele para o carro e você se pergunta como não reconhecia aquela rua sem saída se julgava conhecer todo o Leblon. Antes que pudesse pensar demais, os lábios dele estavam nos seus. Mais empolgados do que antes. Você não gosta muito, mas atura. Até que as mãos dele começam a procurar brechas pela sua roupa. Você lembra-se repentinamente de como ele é feio e sente pontadas fortes de enjôo. Tenta afastá-lo. Ele insiste. Você o empurra, abre a porta do carro, põe a cabeça para fora...
E vomita.
Você ainda fica um tempo olhando para o seu vômito na calçada e sentindo sua garganta arder. Arfando, você limpa a boca com as costas da mão e levanta a cabeça.
-Desculpa, cara. – pede fechando a porta. – Eu não to bem. Acho que vou vomitar de novo.
Ele está rindo e está muito perto de você. Você nota o quanto ele parece com o Timão de Timão e Pumba.
-Ah po. Relaxa, é assim mesmo. – ele põe os braços a sua volta e seu estômago revira. – Mas e aí, quer ir pra um motel?
Você arregala os olhos e sente vontade de chorar.
-Não caara. Eu quero ir pra casa me deixa em casa! – e fica repetindo isso até que ele arranque com o carro dali. Você diz qual é o seu prédio e ele dirige até lá. Você não sabe se ele está de mau humor porque está com a cabeça relaxada no banco, respirando fundo e rezando para não vomitar mais. Ele a incentiva a beber a água.
-Chegamos. – ele olha meio irritado para o seu prédio e você olha com adoração. – Tem certeza que...?
-Tchau, brigada! – e antes que aquela boa alma muda de idéia, você pula do carro e acena para o porteiro.
-Jesse! – o cara chama. – Sua bolsa.
Você volta, sorri bonito para o suricate e ele pega sua mão. Você se inclina e beija o rosto dele.
-Qual seu telefone?
Você dá um número. Se é o seu ou não, não sabe. Falou o primeiro que veio na cabeça.
-Tá eu te ligo. Adorei te conhecer.
-Tchau. Brigada pela carona. – e corre para dentro do prédio. Entra na sua casa depois de inúmeras tentativas de meter a chave na porta, se joga na cama e dorme.
Acorda cedo e vomita o resto da manhã. A sorte é que todos na sua casa dormiam cedo. Sentada no tapete felpudo aos pés da privada, dando descarga pela milésima vez, você ri. Mais tarde, Alle liga preocupada. Você a tranqüiliza e pergunta se seus pais perceberam que ela havia bebido.
-Ontem consegui disfarçar. Mas eles acharam estranho eu estar usando óculos escuros no café da manhã.

XxX

Esse fragmento é uma reunião de memórias aleatórias minhas e da Jesse. Principalmente de Jesse, claro.

Se eu tenho alguma lição por trás dessa história?

Se nós aprendemos alguma coisa?


Não.


Só achei uma experiência interessante.






-G

5 comentários:

  1. vc tem uma mente mto aberta e o dom da escrita
    parabens!

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  2. Putz grila, que texto bom! *-* Hoje estava até comentando com uma amiga porque era tão difícil encontrar blogs bons e com certeza amei o seu. Vi na comunidade de blogs e ao ler tive que comentar! ^^ A história contada, verdadeira ou não, me predeu do início ao fim. Realmente amei, sinceridade. Você escreve muito e está de parabéns! ^^ Me tornarei seguidora!

    Abs

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  3. interessante msm foi a sua narração
    manteve minha atenção até o fim
    muito bom

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  4. Realmente nem todos os acontecimentos da nossa vida nem sempre aprendemos algo, mas é sempre bom hehehe

    Sucesso com seu blog
    ;***


    Beijos

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  5. Bem interessante por sinal. Quando comecei a ler pensei que era uma ficção criada por você, mas depois percebi que era real mesmo. O rapaz era feio mesmo ou o efeito do alcool de fez vê-lo feio? Parecer com o Timão, ahsuahsuash, dei muita risada.
    O rapaz gamou mesmo ein, porque mesmo depois de você ter vomitado ele ainda quis ter algo com você, hausahsua, ainda pensei "Vai, vomita logo, ai ele desiste de te beijar", mas vi que não resolveu muito, rsss... Dária um ótimo episódio de qualquer um desses seriados como Gossip Girl, rsss...
    Muito bom, adorei! Abraço.

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